Pesquisar este blog

sábado, 3 de outubro de 2015

Jesuíno Brilhante na Fazenda Santa Tereza

*Por Epitácio Andrade

No dia 07 de setembro de 2015, o advogado criminalista Bartolomeu Linhares, 

Dr. Bartolomeu Linhares

Radicado na cidade de Caicó, no Seridó potiguar presenteou o cangaceirólogo 

Dr. Epitácio Andrade

Epitácio de Andrade Filho com o artigo Memórias do Dr. Antônio Gervásio Alves Saraiva, de autoria do genealogista e historiador cearense Francisco Saraiva Fernandes Câmara, conhecido como Fernando Câmara. 

Fernando Câmara

O artigo é um ensaio historiográfico sobre a memória da família Saraiva Leão, apresentado pelo orador-autor numa convenção familiar, ocorrida no dia 12 de abril de 1942, no Rio de Janeiro, na época, capital federal do Brasil. E se encontra publicado no número 98, nas páginas 17 a 27, editado em 1984, em Fortaleza, na revista do Instituto Histórico do Ceará. O bacharel em ciências jurídicas pela Universidade Federal de Pernambuco, Antônio Gervásio Alves Saraiva, nascido na fazenda Santa Tereza, distante 15 km da sede urbana do município de Belém de Brejo do Cruz, no alto Sertão paraibano foi contemporâneo do cangaceiro potiguar Jesuíno Brilhante (1844-79). E deixou registrada em seus manuscritos a fatídica passagem do mais afamado cangaceiro do século XIX pelas terras da Santa Tereza, inserindo definitivamente o município paraibano de Belém de Brejo do Cruz no mapa do cangaço de Jesuíno Brilhante.


A Fazenda Santa Tereza se localiza em fronte a serra de Brejo do Cruz e margeia os alcantis das serras do Patu, de João do Vale e serra negra, no Rio Grande do Norte. 


Serra Negra do Norte

Serra de João do Vale

Serra do Patu

Serra de Brejo do Cruz

Cortada ao meio pelo Riacho dos Porcos, oriundo a montante a oito léguas do Catolé do Rocha, sendo represado pelo açude da Santa Tereza, construção arquitetônica secular que contou com a participação decisiva de mão-de-obra escrava. Na época, chegou a ser o maior açude do Nordeste brasileiro

Em 1880, o açude da Santa Tereza não resistiu a uma invernada vindo a se romper, agravando as condições de vida e sobrevivência no Sertão, contribuindo, inclusive para, mais adiante, determinar a eclosão de uma epidemia de tuberculose. Em 1865, a casa grande da Fazenda Santa Tereza era caiada, uma raridade para a época. A fama de opulência da Santa Tereza despertou a cobiça do chefe de bando Jesuíno Brilhante que enviou o seu cabra Pajeú. Numa tarde Pajeú bateu na casa do capitão Álvaro de Assis, um amigo da família Saraiva Leão, para dizer que era plano assentado do bando o assalto a Santa Tereza. Jesuíno já havia estado na casa do major João Batista da Costa Coelho (Pai Joãozinho) para recorrer bolsa, mas não tinha logrado êxito. Jesuíno fazia ponto na comunidade de São José, onde tinha dois coiteiros: Um tal Chaves e Elias Cardoso. Confinantes à Santa Tereza tinham comunidades que ora estavam aliadas a Jesuíno, ora estavam aliadas ao grupo adversário dos Limões, como era o caso da comunidade Dois Riachos, pertencente a família Lobo. 

A Fazenda Dois Riachos do Coronel Valdivino Lobo, aliado incondicional da família Limão, principal algoz do cangaceiro Jesuíno Brilhante o cangaceiro

A Fazenda Dois Riachos do Coronel Valdivino Lobo, aliado incondicional da família Limão, principal algoz do cangaceiro Jesuíno Brilhante o cangaceiro

Coronel Valdivino Lobo da Fazenda Dois Riachos

Neste cenário de conflito, estavam os Saldanhas do mulungu; os Maias em Catolé do Rocha. O declínio socioeconômico da Santa Tereza e o sofrimento da população vitimada pela tuberculose motivaram a vinda do padre Ibiapina (1806-1883) que coordenou a construção da Igreja e do cemitério, além de ter proposto a mudança do nome da comunidade de cachoeira para Santa Tereza, que pode ter sido para homenagear a matriarca conhecida como Teté ou para homenagear a própria genitora do missionário. 

Padre Ibiapina

Finalmente, narra o jurista que acompanhou juntamente com o vaqueiro João Raimundo o sargento comandante de uma tropa destacada na cidade de Imperatriz (hoje Martins, no Rio Grande do Norte) que vinha no encalço dos cangaceiros até um pedregulho existente na estrada entre São José e Santa Tereza, na comunidade de Santo Antônio, onde o sargento Preto Limão armou a emboscada fatal que pôs fim ao cangaço de Jesuíno Brilhante.

Serrote da tropa

Este lugar foi denominado pelo senhor Mário Waldemar Saraiva Leão, fundador da cidade de São José de Brejo do Cruz, como o Serrote da Tropa. 

Dr. Epitácio Andrade
Médico, escritor e pesquisador do cangaço

Acesse o blog do Dr. Epitácio Andrade, clicando aqui 

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Restos mortais do cangaceiro Jesuíno Brilhante não foram entregues aos patuenses

Por José Mendes Pereira 


Jesuíno Alves de Melo Calado era o famoso cangaceiro Jesuíno Brilhante, tendo nascido no ano de 1844, no sítio Tuiuiú, no município de Patu, no Estado do Rio Grande do Norte, e era filho de José Alves de Melo Calado e D. Alexandrina Brilhante de Alencar.

Em dezembro de 1879, na região das Águas do Riacho de Porcos, Brejos da Cruz, na Paraíba, Jesuíno Brilhante foi atingido no braço e no peito, sendo levado por seus amigos. Mas infelizmente ele não resistiu aos ferimentos e faleceu no lugar chamado "Palha", tendo sido  enterrado onde morreu. 

Os restos mortais do cangaceiro Jesuíno Brilhante saíram de lá, e vieram desnecessariamente para Mossoró

Dr. Francisco Pinheiro de Almeida Castro 

No ano de 1883, o Dr. Francisco Pinheiro de Almeida Castro, que era médico em Mossoró, visitou o túmulo do cangaceiro, e trouxe para cá os seus restos mortais, abrigando-os em sua residência.

Após sua morte, em 22 de junho de 1922, os restos mortais  de Jesuíno Brilhante foram levados para o Grupo Escolar "30 de Setembro". No ano de 1924, eles foram transferidos para a Escola Normal. E tenho informação que, posteriormente eles foram transferidos para o Rio de Janeiro, para estudos, e ninguém teve mais informações sobre os mesmos

Por que o Dr. Almeida Castro meteu a sua colher na ossada do cangaceiro, se ele não era perito nisto? 

O Dr. Almeida Castro nascera em Maranguape-Ce, e era médico em Mossoró, mas não era perito, legista ou outra coisa semelhante, em relação à estudos em ossadas, restando apenas o prejuízo para a cidade de Patu, que sem merecer, perdeu um pouco da sua história, quando os restos mortais do cangaceiro deveriam ter sido entregues à população patuense. Se ainda existem por aí, ninguém sabe.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

A esposa de Jesuíno Brilhante

Capa do Livro 'Jesuino Brilhante: O cangaceiro romântico', de Raimundo Nonato. 

Dona Maria era a esposa legítima de um pacato lavrador e vaqueiro que trazia o nome de Jesuíno Alves de Melo Calado. 

Isto até a idade de vinte e sete anos, quando tornou-se conhecido como Jesuíno Brilhante. 
Estas informações vamos encontrá-las num trabalho do escritor Raimundo Nonato. Seu livro “Jesuíno Brilhante, o cangaceiro romântico”, é mais um elo na corrente da história do cangaço.

O casal tinha quatro filhas e um filho, o caçula. 

No ano de 1871, o destino resolveu terminar com a vida pacífica do jovem pai de família. 
O furto de um caprino, propriedade da gente de Jesuíno, por um membro da família dos Limões, pretos valentes e famosos por seus atrevimentos, deu inicio a uma sequência de lutas e mortes. 
Um irmão de Jesuíno foi agredido, dentro da vila de Patu, uns dias depois do furto por Honorato Limão, que ficou vangloriando-se do sucedido dentro da humildade em que ocorrera o episódio.

Alguém avisou Jesuíno do que acontecia; estava em uma casa bastante próxima.
Honorato falava alto para que todos ouvissem e Jesuíno escutava calado. 
Sua mulher em dado momento, chamou-lhe a atenção com as seguintes palavras: (segundo Raimundo Nonato): “Quem ouve tanto desaforo deve ter perdido a vergonha”. 
Essas palavras, ditas a queima-roupa, pela mulher, mexeram com seu brio de sertanejo. 
Armou-se. 
Entrou na venda e matou o preto Limão a punhal. 
Estava iniciada a guerra entre os dois clãs.
Sua vida foi cheia de lances marcantes. 
Ordenou vários casamentos, como quando o noivo depois de seduzir a jovem negava-se a reparar o mal, ele intervinha a favor da desprotegida. 

Contam ainda quem que, certa vez uma pobre mulher disse-lhe que um valentão da região, sabendo que o marido da mesma estava ausente dissera que viria dormir com ela nessa noite. 
Jesuíno teria ficado dentro da casa, no quatro e este, ao ser invadido pelo malfeitor, foi palco da luta, pois o cangaceiro armado de punhal já aguardava o atrevido que foi crivado de pontaços. 
Salvou a honra da honesta sertaneja. 
Não teve dúvida em matar um de seus melhores homens quando este movido pela força irrefreável do sexo tentou abusar de uma donzela colocada sobre a proteção do cangaceiro zeloso das questões morais. 
Em ocasiões em que a polícia ou outros inimigos o atacavam, procurava refúgio na Casa de Pedra, esconderijo da serra do Cajueiro, onde em tempos anteriores seu tio José Brilhante buscava também abrigo e enfrentava as volantes. 
O sobrinho seguiu-lhe os passos.
Sua família, a esposa Maia e os filhos acompanhavam-no, bem como seus comandados em números que não ultrapassava a uma dúzia, e escondiam-se ali na Casa de Pedra. 
Esse grupo atuava no Rio Grande do Norte e Parayba, lutava cantando como o fizera durante o combate na cidade de Imperatriz(atualmente denominada Martins) a mora da Corujinha. 

“Corujinha que anda na rua
Não anda de dia
Só anda de noite
Às Ave Maria...”

Ou esta outra estrofe que cantavam enquanto carregavam e disparavam os terríveis e mortíferos bacamartes: 

“Corujinha que vida é a tua? 
Bebendo cachaça, caindo na rua
Isto é bom, corujinha!
Isto é bom!”...

Interessante, e aqui vamos fazer um reparo para marcamos bem o fato. quase todo cangaceiro tinha como um ponto de honra máxima, na vida guerreira, não ser preso jamais. 
Morrer, ficar aos pedaços, tudo isso era uma possibilidade bastante presente para quem escolhia o cangaço. 
Segundo Câmara Cascudo, seu pai ao perseguir o cangaceiro Rio Preto ouvia-o cantar assim: 

“Rio Preto foi quem disse
E como disse não nega;
Leva bala e leva chumbo, 
Morre solto e não se entrega...”

Já do famoso Antônio Silvino, os cantadores afirmam que seria esta a opinião. Exaltando a morte do pai teria se externado desta forma: 

“Foi morto a tiros lutando
Na rua dum povoado
Vimos ele cair morto
No mais doloroso estado
Porém, tivemos a glória
De o não ver desfeitado”.

Não ser preso era o que importava. A morte, para quem se defendia das grades da prisão, era uma medalha honrosa, motivo de orgulho para os descendentes. 
Curiosamente esse cangaceiro foi obrigado, em virtude de grave ferimento, a entregar-se

“Num recado que mandei
Aonde a polícia estava
Eu pedia garantia
Dizendo que me entregava,
Mesmo porque - estava certo 
Daquela não escapava”.

Mas voltemos a Jesuíno Brilhante, este sim, seguiu a conduta tradicional dos antigos cangaceiros – tombou no campo da luta.
Sua esposa, Maia, findou casando-se com um dos cabras do falecido. 

Fonte: Lampião: As mulheres e o cangaço - Antonio Amaury Corrêa de Araújo